Por Fabiano Pereira, professor de mídias digitais da Faculdade de Comunicação da Unimep e jornalista da TV USP na unidade de Piracicaba
Semanas
atrás, o Facebook, rede social
considerada a mais popular da atualidade, alcançou a marca histórica de 01
bilhão de assinantes, ou seja, praticamente 1/7 da população mundial tomando
parte nessa imensa “família digital”.
Dias
depois, a Revista Época, em matéria de capa, falava do surgimento de clínicas e
tratamentos especializados no tratamento de dependentes digitais, pessoas que
se deixaram escravizar pela tecnologia e que hoje observam sua vida indo embora
ao comprometer trabalho, lazer, saúde física e mental e relacionamentos “reais”
pelo fato de não conseguirem mais viver sem estar 24h online. Se perdem o smatphone, surtam. Se a conexão da
internet cai, entram em desespero.
Como
dizia minha avó, “tudo que é em exagero faz mal, até amor”. Sábias palavras da
velhinha. A tecnologia, que veio para
ajudar, automatizando processos e teoricamente deixando mais tempo livre para
os prazeres da vida, para muitos se tornou o próprio prazer. Não conseguem mais
imaginar a vida sem uma conexão banda larga, sem passar horas e horas a
contemplar, e “curtir”, os posts dos
outros. E quando Mark Zuckerberg, criador do Facebook, fala que nós brasileiros
“okutizamos” o Facebook, ainda se
ofendem.
Um
dos grandes desafios nos dias de hoje, frente a essa nova realidade de
multiconexões, é conseguir conciliar a vida online com a offline – se é que ainda existem diferenças claras quanto a isso.
Se a
proposta inicial era a de automatizar processos por meio da tecnologia, dando
ao homem mais tempo para “viver a vida”, parece que algo saiu errado no meio do
caminho. Não raras vezes, já tive a oportunidade de, no meio de uma viagem de
férias com a família ou amigos, me pegar respondendo e-mails de meu trabalho
via smartphone, ou até por meio de um
notebook em um quarto de hotel. Normal? Não quando se está de férias do
trabalho.
Mas
vamos a situações mais corriqueiras: quantas vezes você se pegou produzindo
conteúdo relativo à sua vida profissional fora de seu horário de trabalho, à
noite, em feriados ou mesmo finais de semana, pelo simples fato de que o que
precisava para tal estava ali, ao alcance de suas mãos: um computador ou smartphone, uma conexão de internet e um
monte de arquivos de seus projetos profissionais “na nuvem, à disposição para
serem acessados, e alterados, a qualquer hora. Comemorou quando conseguiu um
novo emprego e lhe ofereceram, entre outras “vantagens”, um notebook e um
maravilhoso smartphone ou tablet com conexão ilimitada? Parabéns,
a partir daquele momento, você se tornou um escravo de seu trabalho e dos
recursos tecnológicos que este lhe proporciona. Estará à disposição a qualquer
dia, em qualquer lugar e qualquer hora, pronto para atender uma emergência,
apagar um incêndio, fazendo com que a vida passe sem que você perceba que essas
urgências tiraram lugar do que realmente é mais importante: sua saúde, física e
emocional, seu bem estar, sua vida em família, seus amigos, e até mesmo sua
produtividade. Sim, até mesmo isso, pois outro grande desafio dessa era dos
superconectados é conciliar o fato de que permanecermos sendo exatamente iguais
biologicamente falando: ainda tempo apenas um cérebro, dois olhos e dois
ouvidos, e assim por diante, mas ao nos
expormos a uma quantidade tão grande de informação e nos sentirmos na obrigação
de acompanhar tudo, o tempo todo, descobrimos que é humanamente impossível,
perdemos tempo, qualidade e produtividade, e nos frustramos.
Não
falo disso na terceira pessoa porque sou também eu um desses escravos das novas
tecnologias. Escrevo para vocês aqui, deitado em minha cama, mais de
meia-noite, enquanto tenho janelas abertas de meus perfis nas redes sociais e
minha caixa de e-mail.
Para
terminar, apenas uma constatação óbvia, mas nem sempre aplicada como convém: a
arte de viver está em saber discernir entre o que é importante e o que é
urgente, avaliar se a “urgência” realmente se justifica e aprender a deixá-la
para depois sempre que possível, em detrimento daquilo que realmente interessa:
a manutenção de uma vida de qualidade, em toda a amplitude que essa expressão
possa ter. Pense nisso. E regule seu tempo online. Antes que a vida, por si só,
resolva seu problema “desconectando-o” permanentemente. Boa noite e bom
descanso.
O assunto é tão contemporâneo! Estou aqui trabalhando com as redes sociais conectadas. Como manter-se alheia ao mundo?
ResponderExcluirO detalhe é conseguir se controlar nos finais de semana senão ficamos escravos do imediatismo.
Carmen Pilotto