"Só há interesse público se houver diversidade de emissores de informação." Lalo Leal - TV Brasil

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Conexão com a vida



Por Fabiano Pereira, professor de mídias digitais da Faculdade de Comunicação da Unimep e jornalista da TV USP na unidade de Piracicaba

Semanas atrás, o Facebook, rede social considerada a mais popular da atualidade, alcançou a marca histórica de 01 bilhão de assinantes, ou seja, praticamente 1/7 da população mundial tomando parte nessa imensa “família digital”.

Dias depois, a Revista Época, em matéria de capa, falava do surgimento de clínicas e tratamentos especializados no tratamento de dependentes digitais, pessoas que se deixaram escravizar pela tecnologia e que hoje observam sua vida indo embora ao comprometer trabalho, lazer, saúde física e mental e relacionamentos “reais” pelo fato de não conseguirem mais viver sem estar 24h online. Se perdem o smatphone, surtam. Se a conexão da internet cai, entram em desespero.

Como dizia minha avó, “tudo que é em exagero faz mal, até amor”. Sábias palavras da velhinha.  A tecnologia, que veio para ajudar, automatizando processos e teoricamente deixando mais tempo livre para os prazeres da vida, para muitos se tornou o próprio prazer. Não conseguem mais imaginar a vida sem uma conexão banda larga, sem passar horas e horas a contemplar, e “curtir”, os posts dos outros.  E quando Mark Zuckerberg, criador do Facebook, fala que nós brasileiros “okutizamos” o Facebook, ainda se ofendem.

Um dos grandes desafios nos dias de hoje, frente a essa nova realidade de multiconexões, é conseguir conciliar a vida online com a offline – se é que ainda existem diferenças claras quanto a isso.

Se a proposta inicial era a de automatizar processos por meio da tecnologia, dando ao homem mais tempo para “viver a vida”, parece que algo saiu errado no meio do caminho. Não raras vezes, já tive a oportunidade de, no meio de uma viagem de férias com a família ou amigos, me pegar respondendo e-mails de meu trabalho via smartphone, ou até por meio de um notebook em um quarto de hotel. Normal? Não quando se está de férias do trabalho.

Mas vamos a situações mais corriqueiras: quantas vezes você se pegou produzindo conteúdo relativo à sua vida profissional fora de seu horário de trabalho, à noite, em feriados ou mesmo finais de semana, pelo simples fato de que o que precisava para tal estava ali, ao alcance de suas mãos: um computador ou smartphone, uma conexão de internet e um monte de arquivos de seus projetos profissionais “na nuvem, à disposição para serem acessados, e alterados, a qualquer hora. Comemorou quando conseguiu um novo emprego e lhe ofereceram, entre outras “vantagens”, um notebook e um maravilhoso smartphone ou tablet com conexão ilimitada? Parabéns, a partir daquele momento, você se tornou um escravo de seu trabalho e dos recursos tecnológicos que este lhe proporciona. Estará à disposição a qualquer dia, em qualquer lugar e qualquer hora, pronto para atender uma emergência, apagar um incêndio, fazendo com que a vida passe sem que você perceba que essas urgências tiraram lugar do que realmente é mais importante: sua saúde, física e emocional, seu bem estar, sua vida em família, seus amigos, e até mesmo sua produtividade. Sim, até mesmo isso, pois outro grande desafio dessa era dos superconectados é conciliar o fato de que permanecermos sendo exatamente iguais biologicamente falando: ainda tempo apenas um cérebro, dois olhos e dois ouvidos,  e assim por diante, mas ao nos expormos a uma quantidade tão grande de informação e nos sentirmos na obrigação de acompanhar tudo, o tempo todo, descobrimos que é humanamente impossível, perdemos tempo, qualidade e produtividade, e nos frustramos.

Não falo disso na terceira pessoa porque sou também eu um desses escravos das novas tecnologias. Escrevo para vocês aqui, deitado em minha cama, mais de meia-noite, enquanto tenho janelas abertas de meus perfis nas redes sociais e minha caixa de e-mail.

Para terminar, apenas uma constatação óbvia, mas nem sempre aplicada como convém: a arte de viver está em saber discernir entre o que é importante e o que é urgente, avaliar se a “urgência” realmente se justifica e aprender a deixá-la para depois sempre que possível, em detrimento daquilo que realmente interessa: a manutenção de uma vida de qualidade, em toda a amplitude que essa expressão possa ter. Pense nisso. E regule seu tempo online. Antes que a vida, por si só, resolva seu problema “desconectando-o” permanentemente. Boa noite e bom descanso.

Um comentário:

  1. O assunto é tão contemporâneo! Estou aqui trabalhando com as redes sociais conectadas. Como manter-se alheia ao mundo?

    O detalhe é conseguir se controlar nos finais de semana senão ficamos escravos do imediatismo.

    Carmen Pilotto

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